Brincar

"Brincar com crianças não é perder tempo, é ganhá-lo. Se é triste ver meninos sem escola mais triste é vê-los sentados, enfileirados, em salas sem ar, com exercícios estéreis à formação do homem-cidadão".

                                                                                                                     Carlos Drumond de Andrade
A introdução de brinquedos e brincadeiras na educação infantil implica definir o que se pensa da criança. Quem é ela? Brinca? O brincar é importante?
Importância do brincar para a criança de 0 a 5 anos e 11 meses

A criança escolhe o que quer fazer, interage com pessoas, expressa o que sabe fazer e mostra em seus gestos, em um olhar, uma palavra, como é capaz e compreende o mundo. Entre as coisas que a criança gosta está o brincar, que é um dos seus direitos, uma ação livre, que surge a qualquer hora, iniciada e conduzida pela criança, dá prazer, não exige, como condição, um produto final, relaxa, envolve, ensina regras, linguagens, desenvolve habilidades, e introduz no mundo imaginário.

O brincar dá o poder à criança para tomar decisões, expressar sentimentos e valores, conhecer a si, os outros e o mundo, repetir ações prazerosas, partilhar brincadeiras com o outro, expressar sua individualidade e identidade, explorar o mundo dos objetos, das pessoas, da natureza e da cultura para compreendê-lo, usar o corpo, os sentidos, os movimentos, as várias linguagens para experimentar situações que lhe chamam a atenção, solucionar problemas e criar.

No entanto, a criança não nasce sabendo brincar, ela precisa aprender, por meio das interações com outras crianças e com os adultos. Ela descobre em contato com objetos e brinquedos certas formas de uso desses materiais. Para educar a criança na creche é necessário integrar a educação ao cuidado, mas também, a educação, o cuidado e a brincadeira. Essa tarefa depende do projeto curricular, e para que o currículo priorize essas atividades é preciso conhecer a criança, é bebê? Criança pequena? Em idade pré-escolar? Faz-se necessário a utilização de brinquedos de qualidade e para a seleção de brinquedos é preciso considerar diversos aspectos:

• TAMANHO. O brinquedo precisa ser duas vezes mais largo que a mão fechada da criança (punho), em suas partes e no todo;

• DURABILIDADE. O brinquedo não pode se quebrar com facilidade. Vidros e garrafas plásticas são os mais perigosos,

• CORDAS E CORDÕES. Podem enroscar-se no pescoço da criança;

• BORDAS CORTANTES OU PONTAS. Eliminar tais brinquedos.

• NÃO TÓXICOS. Evitar brinquedo com tintas ou materiais tóxicos, pois o bebê o coloca na boca.

• NÃO INFLAMÁVEL. Assegurar-se de que o brinquedo não pega fogo.

• LAVÁVEL E FEITO COM MATERIAIS QUE PODEM SER LIMPOS. Especialmente para bonecas e brinquedos estofados.

• DIVERTIDO. Assegurar que o brinquedo seja atraente e interessante.

A análise do brincar na educação infantil foi efetuada por KISHIMOTO à luz dos artigos 9º a 12º das Diretrizes Curriculares de Educação Infantil.

Segundo o artigo 9º, os eixos norteadores das práticas pedagógicas devem ser as interações e a brincadeira, indicando que não se pode pensar no brincar sem as interações:

Interação com a professora/educadora: o brincar interativo com a professora/educadora é essencial para o conhecimento do mundo social e para dar maior riqueza, complexidade e qualidade às brincadeiras. Especialmente para bebês são essenciais ações lúdicas que envolvem turnos de falar ou gesticular, esconder e achar objetos.

Interação com as crianças: o brincar com outras crianças garante a produção, conservação e recriação do repertório lúdico infantil. Essa modalidade de cultura é conhecida como cultura infantil ou cultura lúdica.

Interação com os brinquedos e materiais: é essencial para o conhecimento do mundo dos objetos. A diversidade de formas, texturas, cores, tamanho, espessura, cheiros, e outras especificidades do objeto são importantes para a criança compreender esse mundo.

A interação entre criança e ambiente: a organização do ambiente facilita ou dificulta a realização das brincadeiras e das interações entre as crianças e adultos. O ambiente físico reflete as concepções que a instituição assume para educar a criança.

As interações (relações) entre a Instituição, a família e a criança: a relação entre a instituição e a família possibilita o conhecimento e a inclusão da cultura popular que inclui os brinquedos e brincadeiras que a criança conhece no projeto pedagógico.

Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Infantil, as práticas pedagógicas devem garantir experiências diversas.

I - Conhecimento de si e do mundo por meio das experiências sensoriais, expressivas e corporais para movimentação ampla, expressão da individualidade e respeito pelos ritmos e desejos da criança

II – Imersão nas diferentes linguagens e domínio de gêneros e formas de expressão: gestual, verbal, plástica, dramática e musical.

III - Experiências de narrativas, de apreciação e interação com a linguagem oral e escrita e convívio com diferentes suportes e gêneros textuais, orais e escritos.

IV - Experiências para recriar, em contextos significativos, relações quantitativas, medidas, formas e orientações espaço/temporais.

V - Experiências para ampliar a confiança e a participação das crianças nas atividades individuais e coletivas.

VI – Experiências mediadas para a aprendizagem da autonomia, nas ações de cuidado pessoal, auto-organização, saúde e bem-estar.

VII – Vivências éticas e estéticas com outras crianças e grupos culturais, para favorecer a identidade e a diversidade.

VIII - Curiosidade, exploração, encantamento, questionamento, indagação e conhecimento em relação ao mundo físico e social, ao tempo e à natureza.

IX - Relacionamento e interação entre as crianças durante as manifestações de música, artes plásticas e gráficas, cinema, fotografia, dança, teatro, poesia e literatura.

X - Interação, cuidado, preservação, conhecimento da biodiversidade e sustentabilidade da vida na Terra e o não desperdício dos recursos naturais.

XI - Interação e conhecimento das manifestações e tradições culturais brasileiras.

XII – Uso de gravadores, projetores, computadores, máquinas fotográficas e outros recursos tecnológicos e midiáticos.

Parágrafo único – Formas de Integração das características, identidade institucional e particularidades pedagógicas de cada creche e pré-escola na proposta curricular.

Toda educação tem valores. Para que a educação tenha raízes na cultura é preciso que ela inclua os valores da comunidade na qual está inserida. Cada comunidade deve ter o direito de escolher as propostas pedagógicas para suas creches e pré-escolas que reflitam os valores de seu povo, que espelhem as escolhas do grupo. Considerando que cada cultura tem seus valores e práticas que devem ser preservados para guardar a memória de um povo, como integrá-los com a tecnologia? Cabe à creche e pré-escola selecionar o que é importante, para criar um espaço onde coexistam a tradição e a modernidade.

Art. 10. I Acompanhamento e avaliação do trabalho pedagógico sem objetivo de seleção, promoção ou classificação, por meio da observação crítica e criativa das atividades.

Se o brincar é um dos eixos importantes do trabalho pedagógico, é preciso observar e acompanhar cada criança para verificar: quais foram seus brinquedos preferidos, com quem brincou, como brincou, o que fez de novo em cada semana, se interagiu com a diversidade dos objetos e pessoas de seu agrupamento e de outros, se brincou de faz de conta com guias simples ou complexos, com quem e o que fez. Os instrumentos de observação e registro devem servir como base para o planejamento das atividades.

II – Utilização de registros de adultos e crianças (relatórios, fotografias, desenhos, álbuns, etc.)

É preciso planejar como e quando colher os dados e sistematizar os registros: usar fotografias, selecionar desenhos e outras produções das crianças, verificar quais são os preferidos pelas crianças e professora e suas razões e elaborar relatórios de atividades. O conjunto de registros compõe o Portfólio, a documentação que vai mostrar o processo da criança. Esse documento, exposto nas paredes da sala, serve de consulta para a criança que gosta de ver suas produções e fazer comentários. Os registros feitos por adultos ou pelas crianças indicam o que elas gostam de fazer. Quando se registra o brincar livre, guarda-se marcas de um tempo e um lugar, ou seja, marcas históricas deixadas pelas crianças, que podem ser aproveitadas para o planejamento de atividades dirigidas, com a participação das crianças e suas famílias.

III – Continuidade dos processos de aprendizagens por meio de estratégias de transição (casa/instituição de Educação Infantil, interior da instituição e creche/pré-escola)

As transições ou mudanças são muito difíceis para toda criança. Há transições de uma atividade a outra, de um ano a outro, dentro de uma creche ou pré-escola e de instituições.

IV – Documentação sobre a aprendizagem e desenvolvimento da criança e o trabalho com famílias

Como registro e documentação dos brinquedos e brincadeiras, o portfólio pode circular na casa das crianças, para que as famílias colaborem informando as brincadeiras preferidas dos seus filhos e saibam como eles aprendem e se desenvolvem ampliando a cultura sobre o brincar, que auxilia a integrar a família à creche e pré-escola, quando os pais dão sequência, em casa, às atividades do centro infantil, inserindo comentários, fotografias ou objetos que tenham significado com tais registros.

V. A não retenção das crianças na Educação Infantil

A Educação Infantil é uma importante fase que constrói os pilares da educação e desenvolvimento da criança, o que requer observar e registrar suas atividades, para integrar e ampliar suas experiências lúdicas e interativas, priorizando seu acompanhamento, não a retenção.

Art. 11. Transição para o Ensino Fundamental, continuidade no processo de aprendizagem e desenvolvimento das crianças, respeito às especificidades etárias, sem antecipação de conteúdos

IMPORTANTE: observar, acompanhar e participar do brincar da criança para criar vínculos, fazer mediações:

1. Observar: olhar sua criança para ver o que ela já sabe fazer e quais são suas atividades favoritas;

2. Acompanhar: juntar-se ao brincar da criança. Você pode aumentar a complexidade do brincar, mas deixar a criança controlar e determinar a direção do brincar;

3. Ser criativo: redescobrir a criança dentro de si e experimentar novas formas de brincar com o brinquedo. Usar o brinquedo como suporte para descobrir muitas maneiras de brincar com as crianças

Sugestões de Brinquedos e Materiais para Educação Infantil

IDADES SUGESTÕES

Bebês

(0 a 1 ano e meio) Chocalhos, móbiles sonoros, sinos, brinquedos para morder, bolas 40 cm e menores, blocos macios, livros e imagens coloridos, brinquedos de empilhar, encaixar, espelhos. Objetos com texturas (mole, rugoso, liso, duro) e coloridos, que fazem som (brinquedos musicais ou que emitem som), de movimento (carros e objetos para empurrar), para encher e esvaziar. Brinquedos de parque. Brinquedos para bater. Cesto com objetos de materiais naturais, metal e de uso cotidiano. Colcha, rede e colchonete. Bichinhos de pelúcia. Estruturas com blocos de espuma para subir, descer, entrar em túneis.

Crianças pequenas

( 1 ano e meio a 3 anos e 11 meses) Túneis, caixas e espaços para entrar e esconder-se, brinquedos para empurrar, puxar, bolas, quebra-cabeças simples, brinquedos de bater, livros de história, fantoches e teatro, blocos, encaixes, jogos de memória e de percurso, animais de pelúcia, bonecos/as, massinha e tinturas de dedo. Bonecas/os, brinquedos, mobiliário e acessórios para faz de conta. Sucata doméstica e industrial e materiais da natureza. Sacolas e latas com objetos diversos de uso cotidiano para exploração. TV,computador, aparelho de som, CD. Triciclos e carrinhos para empurrar e dirigir, tanques de areia, brinquedos de areia e água, estruturas para trepar, subir, descer, balançar, esconder . Bola, corda, bambolê, papagaio, perna de pau, amarelinha. Materiais de artes e construções. Tecidos diversos. Bandinha rítmica.

Crianças Maiores Pré-escolares

(4 e 5 anos e 11 meses) Boliches, jogos de percurso, memória, quebra-cabeça, dominó, blocos lógicos, loto, jogos de profissões e outros temas, materiais de arte, pintura, desenho, CD com músicas, danças, jogos de construção, brinquedos para faz de conta e acessórios para brincar, teatro e fantoches. Materiais e brinquedos estruturados e não estruturados. Bandinha rítmica. Teatro e fantoches.Brinquedos de parque. Tanques de areia e materiais diversos para brincadeiras na água e areia. Sucata doméstica e industrial e materiais da natureza. Papéis, papelão, cartonados, revistas, jornais, gibis, cartazes e folhas de propaganda. Bola, corda, bambolê, pião, papagaio, 5 Marias, bilboquê, perna de pau,amarelinha, varetas gigantes. Triciclos, carrinhos, equipamentos de parque. Livros infantis, letras móveis, material dourado, globo, mapas, lupas, balança, peneiras, copinhos e colheres de medida, gravador, TV, máquina fotográfica, aparelho de som, computador, impressora.
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